Por que a realidade virtual é capaz de auxiliar no desenvolvimento de pessoas com autismo?

Francyelle Marques
November 23, 2024
Por que a realidade virtual é capaz de auxiliar no desenvolvimento de pessoas com autismo?

O transtorno do espectro do autismo (TEA) é caracterizado como uma condição complexa do desenvolvimento que traz prejuízos persistentes na comunicação e interação social, bem como nos comportamentos que podem incluir os interesses e os padrões de atividades, características essas que estão presentes desde a infância e limitam ou prejudicam a vida diária do indivíduo (APA, 2022).

A realidade virtual (RV), tecnologia capaz de criar a sensação de presença em um ambiente virtual, configura-se como uma ferramenta potente para auxiliar no desenvolvimento de pessoas com autismo, pois permite que terapeutas ofereçam um ambiente seguro, repetível e diversificado durante o aprendizado.

A literatura está cada vez mais reconhecendo os benefícios potenciais da realidade virtual no apoio ao processo de aprendizagem, particularmente relacionado a situações sociais, em crianças com autismo (Strickland et al. 2007). O realismo do ambiente simulado permite que pessoas com autismo aprendam habilidades importantes, aumentando a probabilidade de transferi-las para o seu cotidiano (Strickland, 2007). Além disso, a realidade virtual muitas vezes é mais adequada para a aprendizagem que os ambientes reais, isso porque:

1. Remove estímulos concorrentes e confusos do contexto social e ambiental;

2. Controla o tempo usando pausas curtas para esclarecer aos participantes as variáveis envolvidas nos processos de interação;

3. Permite que os sujeitos aprendam enquanto brincam.

Nossas experiências e testes desenvolvidos ao longo do ano de 2021 mostraram que participantes com TEA aprenderam a utilizar os óculos de realidade virtual rapidamente, interagiram de forma eficiente e demonstraram engajamento com a atividade. Ademais, pesquisas anteriores mostraram melhorias significativas no desempenho de habilidades após a utilização da Realidade Virtual. Além da tecnologia desenvolver novas possibilidades educacionais e terapêuticas, a RV também pode gerar intermediações culturais, emocionais e facilitar o desenvolvimento das capacidades lógicas e cognitivas. O Instituto de Pesquisa e Tratamento para Distúrbios do Espectro Autista (TRIAD, 2015) afirma que crianças autistas interagem melhor com as máquinas do que com os terapeutas. Deste modo, pode-se afirmar que os jogos digitais são importantes ferramentas facilitadoras das atividades extras-classe, uma vez que são intuitivas, estimulantes e de fácil manuseio.

Ademais, um estudo realizado pela PWC (2020) avaliou a eficácia da utilização da realidade virtual para o treinamento de competências e mostrou que:

1. Os alunos de RV aprendem 4 vezes mais rápido que na sala de aula.

2. Os alunos de RV são 275% mais confiantes para aplicar as habilidades aprendidas após o treinamento. A confiança é um fator-chave para o sucesso ao aprender habilidades sociais e a RV permite a prática de lidar com situações difíceis em um ambiente seguro.

3. Os alunos de RV são 3,75 vezes mais conectados emocionalmente ao conteúdo do que os alunos de aulas tradicionais. Quando as emoções estão envolvidas, as pessoas se conectam, entendem e lembram das coisas mais profundamente. O aprendizado baseado em simulação de RV oferece a oportunidade para os indivíduos sentirem como se tivessem tido uma experiência significativa.

4. Os alunos de RV são 4 vezes mais focados do que seus colegas de e-learning, isso acontece porque as simulações de RV e experiências imersivas exigem total atenção e visão dos indivíduos.

Desta forma, a utilização de ferramentas de RV, somada ao conhecimento sobre comportamento humano é, portanto, muito promissora e pode auxiliar cuidadores, terapeutas e educadores a facilitar o desenvolvimento de habilidades sociais e atividades da vida diária de pessoas com TEA, promovendo melhoria da qualidade de vida e facilitando sua integração na família e na sociedade.