Apresentação
A Therafy se configura como um programa em realidade virtual (RV) com atividades imersivas e gamificadas para propiciar o desenvolvimento, especialmente projetado para ser um ambiente adequado às necessidades de pessoas com autismo e demais deficiências. Desta forma, todas as atividades desenvolvidas na plataforma objetivam conquistar a autonomia para que os aprendizes possam superar barreiras e construir habilidades e competências.
O grande salto qualitativo da proposta da Therafy foi a junção de saberes para a criação de uma solução conectada com os reais desafios enfrentados pelas pessoas com deficiência. Isso porque, isoladamente e de forma descontextualizada, a tecnologia por si não gera transformações sociais, mas o conhecimento e a vivência no campo da educação e da saúde pública, somado às possibilidades da tecnologia, estes sim, permitiram a criação de um recurso inovador.
Até o presente momento foram desenvolvidas na plataforma atividades para o aprendizado de reconhecimento de emoções, habilidades sociais, comunicação e para ensinar a atravessar a rua com segurança. A plataforma funciona de forma imersiva, ou seja, de forma que o usuário se sente dentro de um cenário realista.
Essa imersão propicia um maior realismo nas atividades, facilitando o processo de aprendizagem. Ademais, a realidade virtual permite um maior foco do usuário levando a menos distrações e possibilitando um aprendizado mais efetivo. A plataforma Therafy também utiliza princípios de gamificação para aumentar o engajamento, o que torna todo o processo leve e divertido.
Durante os anos de 2022 e 2023 foram realizados testes utilizando o software da Therafy com o objetivo de compreender se as pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) conseguiriam utilizar a plataforma, se poderiam permanecer com os óculos de realidade virtual e também para coletar dos usuários, pais e profissionais, sugestões de melhoria para o programa.
Para tanto, as sessões foram providas pela equipe própria da Therafy e também contou com a participação de clínicas de atendimento a pessoas com TEA, com professoras do Atendimento Educacional Especializado e com uma Instituição de Ensino Superior. As instituições participantes foram:
Para a coleta e organização dos dados, a Therafy forneceu uma planilha, na qual os usuários foram identificados por números, preservando assim, suas identidades. Foram registrados dados como: data do teste, local, realizador da sessão, sexo, idade, duração da sessão, se tinha diagnóstico de TEA, nível de suporte, se o indivíduo se comunica verbalmente, se consegue utilizar o óculos de RV, se é capaz de responder às perguntas, dificuldades, resultados e um campo para anotação de observações e sugestões de melhorias no programa.
Dos testes, participaram 38 pessoas entre 02 e 43 anos, totalizando 727 minutos de utilização, com uma média de 29 minutos por sessão. Na seção seguinte, descreveremos mais detalhadamente o perfil dos participantes:
Por meio de gráficos, será demonstrada a usabilidade, ou seja, quantos participantes conseguiram utilizar o programa. Para dar inteligibilidade aos dados, serão realizados recortes de acordo com as características dos usuários, tais como idade e nível de suporte.
Salienta-se que não se trata de uma pesquisa acadêmica, mas sim uma iniciativa própria para sistematizar e fomentar a produção de conhecimento de forma responsável e o comprometimento com a qualidade do recurso.
1. Caracterização geral dos participantes
2. Caracterização dos participantes de acordo com a idade e nível de suporte
Obtivemos os seguintes resultados com a realização dos testes de usabilidade:
Percentual de participantes que conseguiram utilizar o programa de acordo com a idade:
Percentual de participantes que conseguiram utilizar o programa de acordo com o nível de suporte.
Análise dos dados
Os testes preliminares ao lançamento da Plataforma Therafy foram realizados entre 2022 e 2023 em dois estados brasileiros: Mato Grosso do Sul e Minas Gerais. Trata-se de uma amostra de 38 pessoas que aceitaram participar das sessões de cerca de 30 minutos de uso do recurso. Os testes preliminares têm como objetivo compreender se as crianças e adultos com TEA conseguiriam utilizar, permanecer e compreender a utilização da tecnologia. Além disso, os testes preliminares se configuraram como uma oportunidade para receber sugestões dos usuários, do pais e dos profissionais para melhorias do programa.
Do total de 38 participantes, 14 são entre 2 e 5 anos e 24 são maiores de 6 anos, sendo que as pessoas mais velhas tinham 29 e 43 anos. Apenas 5 dos 38 são do sexo feminino, o que pode ser uma representação da realidade. A proporção de homens e mulheres com autismo permanece continuamente sendo pesquisada, no entanto, de acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos da América, a cada quatro pessoas com TEA, apenas uma é mulher. Existem duas possíveis interpretações para essa diferença, a primeira é a de que o transtorno realmente afeta mais os homens e a segunda é que as mulheres são afetadas de maneira diferente, levando ao não diagnóstico. Além disso, estudos apontam que o diagnóstico de autismo em pessoas do sexo feminino pode ser prejuficado por influências psicológicas, sociais e culturais, já que mulheres conseguem desenvolver habilidades de camuflar, disfarçar e compensar as dificuldades decorrentes do transtorno.
Na amostra total, 37 tinham diagnóstico de TEA, sendo que uma pessoa estava em processo de avaliação, não tendo o diagnóstico fechado. Das pessoas dentro do espectro, 24 eram nível 1 de suporte, 13 eram nível 2 de suporte e uma pessoa era nível 3 de suporte. Considerando que o autismo é um espectro e que cada indivíduo tem suas necessidades e potencialidades de forma singular, a categorização por níveis de suporte existe apenas para facilitar a compreensão das dificuldades enfrentadas pela pessoa, não podendo ser utilizada para rotular os sujeitos. Ademais, não foram encontradas pesquisas estatísticas que demonstrassem a proporção de pessoas com autismo de acordo com os níveis de suporte.
No que tange à aceitação para utilização da tecnologia, de forma protocolar, o recurso foi apresentado aos sujeitos após uma breve explicação do que teria dentro dos óculos e então questionamos se eles gostariam de experimentar; apenas com a resposta positiva explícita, o equipamento era disposto no rosto da pessoa. Ao primeiro pedido, ele era retirado. Além disso, foi disponibilizado um manual para organização do ambiente, com foco na segurança do usuário. Esses cuidados simples com o ambiente e o consentimento explícito possibilitaram que em nenhuma das sessões houvesse intercorrências ou acidentes.
Todas as tentativas foram consideradas e do total de 38 participantes, 12 não conseguiram ou recusaram utilizar o recurso, o que representa 32%. Quando realizado um recorte por idade, crianças abaixo de 6 anos, 71% delas, não conseguiram ou não quiseram usar o programa; ao passo que dentre as pessoas acima de 6 anos apenas 8% não conseguiram.
Desta forma, estes dados preliminares apontam que é mais desafiador, em primeira instância, a adesão de crianças menores de 6 anos, o que pode estar relacionado às próprias características do desenvolvimento humano. Outra interpretação possível é que as crianças menores requerem mais tempo para ambientação e construção de vínculo para a aceitação da novidade. De qualquer forma, esse grupo requer uma maior atenção na preparação da sessão com o recurso de realidade virtual.
Ademais, com base nos testes realizados podemos compreender que os participantes com idade inferior à 6 anos e com níveis de suporte 2 e 3 tiveram mais dificuldade para utilizar a plataforma Therafy. Neste grupo, 80% não conseguiram utilizar. No entanto, os participantes com idade superior a 6 anos e nível de suporte 2 e 3 tiveram mais facilidade para utilizar o programa, representando 75% de sucesso com o uso.
Vale salientar que na amostra analisada, das crianças menores de 6 anos, 89,5% foram avaliadas como nível 2 ou 3 de suporte e somente 10,5% delas são crianças nível 1 de suporte, as quais possivelmente teriam mais facilidade com a utilização do recurso.
Assim sendo, os testes realizados mostram que dentre as crianças menores de 6 anos com nível de suporte 1, metade delas, exatamente 50%, conseguiram utilizar com sucesso a plataforma.
Já as crianças a partir de 6 anos, avaliadas em nível 1 de suporte 95% utilizaram com sucesso a plataforma, obtendo aprendizados significativos para o seu desenvolvimento.
Conclusão
Os dados obtidos demonstraram que pessoas com TEA são sim capazes de utilizar a tecnologia, mantendo-se engajadas até o final da atividade proposta, sendo assim, os testes apresentaram resultados promissores, suficientes para compreender que a Therafy está no caminho certo e deve manter os esforços para o desenvolvimento do programa.
As sessões com a Plataforma Therafy foram bem recebidas pelos participantes, que demonstraram melhorias notáveis em várias áreas de desenvolvimento, principalmente em interação social. Isso porque a oportunidade de aprendizado com a imersão em ambientes virtuais controlados permitiu que eles experimentassem situações sociais de maneira segura e sistematizada, o que é fundamental para o desenvolvimento de habilidades tão complexas.
Ademais, a tecnologia de realidade virtual emerge como um recurso promissor, com potencial significativo para oportunizar o aprendizado de forma lúdica, beneficiando pessoas com autismo e demais deficiências para o desenvolvimento de habilidades e competências, seja no ambiente escolar, no âmbito das clínicas e em um futuro próximo, em suas casas, de forma complementar.
Embora mais pesquisas sejam necessárias para explorar plenamente as capacidades e limitações da realidade virtual no contexto do autismo e demais deficiências, os resultados preliminares são admiráveis e abrem caminho para futuras investigações e desenvolvimento de práticas pedagógicas e terapêuticas inovadoras.
Therafy: Inovando caminhos e proporcionando uma aprendizagem mais emocionante para todos.